quinta-feira, 25 de março de 2010

Obama e o Grande Jogo

Barack Obama conseguiu cruzar o primeiro item de sua lista de coisas a fazer na presidência americana: não deixar seu governo passar em branco. Ao passar sua reforma do sistema de saúde americano. Já entrou na lsita dos presidentes que realmente rolaram o dado nas mesas de cacife alto do cassino político americano, separados dos semi-anônimos que viraram nome de rua e nada mais, como Calvin Coolidge (quem?).

Se esta reforma realmente representa um passo na recuperação dos EUA pós-crise é uma questão mais complicada. Na verdade, a iniciativa parece mais uma série de ajustes no setor de seguros-saúde do que uma reforma total do sistema.

Mas é, obviamente, a reforma que Obama quis. Ele descartou a possibilidade de um sistema single-payer (totalmente público, como no Reino Unido) antes mesmo de tomar posse, e não moveu uma palha para defender um sistema de opção pública (no qual o Estado mantém um plano à parte, mas ainda existem planos privados, como no Canadá e na França).

Ele poderia ter começado defendendo a opção single-payer para no fim ser diplomático e garantir a opção pública. Todo mundo que já negociou algo, de uma pamonha ao preço de um imóvel, conhece a regra básica: comece pedindo alto para ter margem de baixar o preço (e se o outro topar o preço inflado, melhor ainda). Obama escolheu começar apostando baixo e fechou por menos ainda.

A pergunta agora é: por quê? Não pode ter sido para obter apoio da oposição republicana. Os conservadores estão estuprando dicionários em busca de novas formas de chamar o presidente de comunista, socialista, muçulmano e o escambau. Mesmo a versão mais vaselina da reforma não angariou um solitário voto republicano. Se fazer concessões não trouxe nenhum benefício em termos legislativos, por que não investir capital político em uma versão mais robusta?

Porque Obama realmente é um centrista, ao contrário das fantasias de parte da esquerda tanto americana como mundial. Um humanista, com certeza, mas com apego zero a qualquer tema mais controverso ou revolucionário. Seu padrinho no Senado foi Joe Lieberman, um dos democratas mais conservadores da história.

Também porque sabe, com certeza matemática, que o partido democrata precisa das vultosas contribuições finaceiras das seguradoras, especialmente neste ano de eleições para o Congresso.

O fato de que um moderado crônico é diariamente acusado de estatizador leninista em quase toda a mídia americana (Fox News, todas as estações de rádio e até o Wall Street Journal) mostra o quanto a bússola política dos EUA está fora do rumo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário