quarta-feira, 6 de abril de 2011

Bolsonaro é o Futuro

Ou pelo menos parte do futuro. É inevitável.

Foi assim nos EUA. Após 20 anos de progresso no pós Segunda Guerra que viram o nascimento de um país de classe média e finalmente uma sociedade sem apartheids legalmente definidos, o rancor da massa conservadora, que sempre foi a verdadeira dona do país em suas fantasias, embora não na realidade (mas o poder da fantasia política nunca pode ser subestimado) passou a ser uma cultura em si. Que Nixon explorou com uma maestria faustiana.

De repente, os racistas do Sul não eram mais caipiras ultrapassados: eram gente honesta querendo respeito a suas tradições. Não eram a favor do apartheid, apenas não queriam o poder federal lhes dizendo como viver. A culpa era dos outros, se intrometendo em suas vidas.

Servir esse rancor passou a ser uma vertente política muito bem sucedida. É fácil agradar alguém quando tudo que se pede é que você odeie as mesma pessoas que ele. Quando se divide uma sociedade em dois, vale tudo para não perder para o outro. Não importa se o seu candidato é pilantra, se não cumpriu promessas, se tem programas que são ativamente nocivos ao seu interesse. Escolher o outro é impensável, uma traição de classe.

Quer reclamar? Então você é um dos arautos do Politicamente Correto, essa censura broxa que serve apenas para legitimar seus oponentes, uma curiosa Gestapo sem armas, cachorros, cassetetes ou apito.

A alcunha de 'politicamente correto' já nasceu como uma maldição. Nunca foi usada de forma positiva, e desde a hora zero ser 'politicamente incorreto' era a ordem do dia. Nunca foi tão fácil ser rebelde sem arriscar nada, já que o alvo por definição está em outra camada social, outra cor, outro país...enfim, outro.

Arranhe a casca de um suposto herói esbravejando contra o politicamente correto e você encontrará um cuzão se fazendo de vítima. Sim, ele pode estar negando a dignidade e/ou identidade alheia, mas ele é o oprimido. Nas sábias palavras de Homer Simpson, "Por que ninguém tolera a minha intolerância?"

Esse é o apelo de Bolsonaro e afins: ele redime as nossas cuzices e às transforma em pequenos triunfos morais: Aquele moleque meio afeminado que você humilhou na oitava série? Ele merecia. Você fez um favor a ele e à sociedade ao maltratá-lo. Destratou um negro ou um nordestino em uma briga besta no estacionamento ou na fila do mercado? Ele provavelmente tem uma família de parasitas em algum lugar, torrando Bolsa Família às suas custas.

"Ética não é ensinar alguém a ser bom. É a forma de ajudar boas pessoas a fazer boas escolhas quando a escolha ideal não é clara." -Simon Blackburn
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